Eis aí um grande dilema nas relações entre casais. Inevitavelmente o Homo sapiens traz suas características filogenéticas, ontogenéticas e culturais que vão diferir seus descendentes ainda que na mesma espécie.
Muitas dessas características podem aproximar ou afastar os membros de uma relação.
Suportar ou não, eis a questão? A resposta é mais complexa do que se parece, mas algumas coisas podem ir se mensurando durante a relação. Até que ponto uma característica do outro afeta o parceiro e vice-versa. E quando se diz afetar, afeta “o que” e “como”, ou seja, que função tais características tem para cada qual?
Um comportamento pode ser extremamente reforçador para um, ao passo que pode ser altamente aversivo para seu cônjuge. Só pra se ter uma ideia, algo reforçador para alguém não implica que seja para todos, ainda que tal pessoa considera que sim; assim como algo aversivo pra um não implica em algo ruim para todos; não obstante são coisas que adquiriram essas respectivas funções. E talvez por este motivo, muitos acabam desarticulando seu cônjuge recorrendo a comparações que lhes favoreçam.
Portanto, quanto melhor o casal compreender dessas respectivas funções melhor eles (saiba mais) têm condições de interagir com elas e consequentemente melhorar suas relações. Assumir postura de simplesmente tolerar isso em nome de outras coisas não a eximirá do sofrimento, haja fluoxetina. Existem contingências que precisam ser manipuladas.
O não abrir mão pode sinalizar outros tipos de consequências no relacionamento. Talvez ambos, ainda que a custa de lágrimas, perdem e ao mesmo tempo ganham. Perdem o que cada um ofertava de bom ao outro, o quanto um era reforçador para o outro. Ganham o distanciamento a liberdade e distanciamento daquilo que lhe era aversivo.
Eleger o que é bom pra si mesmo e “dane-se” o resto pode caracterizar uma boa maneira de oprimir o outro e dizer que ele não é importante. Muitos inclusive tentarão persuadir seu parceiro de tal maneira. Articularão falas que eliciarão culpa, remorso no outro para impor suas vontades e desejos; inevitavelmente uma maquiavélica maneira de obter espaço para impor suas preferências. Pena, que em médio e longo prazo os efeitos deletérios da relação escalam níveis e níveis familiares e sociais!
A triste notícia é que dizer que irá mudar, pode revelar que aquilo que está sendo dito está mais sob controle das consequências impostas pelo ouvinte e não sob controle dos efeitos deletérios que se encontram a relação e a história do casal. Já gravei vídeo em que esclareço um pouco mais isso. Muitos querem mudar, poucos tentam, alguns encontram o caminho mas desistem, raros exibem comportamentos de que estão se dedicando.
Por ora, essa mudança de fato implica em rever muitos dos cenários da vida da pessoa que a moldaram como tal. Até que ela perceba que há outras possibilidades; até que ela perceba que o que importa não é meramente estar certo, mas sim ver como faz o outro se sentir.
Rolemberg Martins