A ciência analítico comportamental concebe que o homem é produto de três níveis de seleção: filogenético, ontogenético e cultural.
Ainda que não falaremos sobre todos aqui, mas o filogenético é de onde carregamos nossa bagagem genética, bem como características reflexas a alguns estímulos, isso configura o quão respondentes podemos ser a certas estimulações ainda que não queiramos. O ontogenético, está intimamente relacionado com todas as nossas experiências de vida e óbvio, as aprendizagens que consolidamos como consequências de nossas “inter-ações” com o meio ao qual nos desenvolvemos. O terceiro nível, cultural, traz consigo muito aquilo que fortalece nossa convivência grupal, evidenciando assim, o papel da nossa linguagem, que por sua vez contribui para disseminar e manter tradições culturais, ou seja, praticamente tudo aquilo que é passado de geração em geração através da nossa linguagem a favor dos grupos. Ainda que essa ideia não é bem quista pela grande maioria das pessoas, somos seres altamente dependentes dos grupos. Mesmo que você ou outras pessoas repudiem alguns comportamentos de certos grupos, não negligenciemos que para àquele determinado grupo, tais práticas são valorizadas e por isso acontecem, pois fortalecem seus indivíduos.
Sendo assim, comportamentos que tendem a fortalecer a convivência em grupo, pode se dizer que contempla o terceiro nível de seleção.
A palavra seleção aqui faz referência a “seleção” das espécies de Darwin.
São comportamentos que vão sendo selecionados pelas consequências que produzem para aqueles que os emitem.
Fazer algo por alguém tendo como objetivo apenas ajudar e nada mais, produzirá antes de mais nada a recompensa natural de ver o outro ajudado e portanto feliz. É análogo a se alegrar por simplesmente contribuir com a satisfação do próximo. Algumas pessoas possuem excessos dessa categoria de comportamentos enquanto outros já possuem déficits acentuados, expondo ambos a inúmeros problemas de relacionamentos.
Cautela nunca é demais. Não se deve sair generalizando que fazer o bem para o outro, você irá negligenciar a si mesmo ou ainda negligenciar como tal atitude afetará o outro. Generalizar é contraproducente.
Inclusive é totalmente diferente de fazer algo com o objetivo de ser bem quisto, aprovado, valorizado, pra não dizer bajulado, pois neste caso a pessoa, que está praticando o bem, faz com outras intenções, isto é, pensando nela mesma e não no outro.
Sendo assim, emitir comportamentos pró-sociais podem se perpetuar em função das consequências que produzem, pois fará bem àquele que praticou o bem. Ainda que o “agradar” aí possa representar inúmeras coisas é interessante salientar que fazer o que é bom para o outro, tende a fortalecer uma sociedade.
A ideia aqui não é trazer uma receita – até mesmo que não existe – mas sim propor uma reflexão. Se quer melhores resultados, procure um psicoterapeuta.
Talvez muitos podem pensar então como uma pessoa não adquiriu comportamentos de sensibilidade ao outro. Os motivos podem ser vários.
Pessoas que em seu histórico de vida “mais” receberam agrados de modo “condicional”, podem ter dificuldades de emitir comportamentos sob controle daquilo que é significativo para o outro, uma vez que elas poderão se queixar do que o outro fez ou deixou de fazer para merecer tal agrado. Tal atitude denuncia os possíveis déficits em autoconhecimento que essa pessoa possuí, subproduto de seu histórico de desenvolvimento.
Ainda que essa pessoa possa ter sido vítima de amor “condicional”, a questão não é culpabilizar quem assim a tratou, mas sim discriminar, ou melhor, reconhecer como nela se originou tais insensibilidades. Essa é uma mera possibilidade sobre como tudo começou. Há várias possibilidades.
Outra pessoa pode, por exemplo, muito bem ter recebido muitas regras (crenças) “distorcidas” que lhe foram impostas de que “o mundo é um lugar cruel onde todos querem lhe derrubar” ou ainda que “existem muitas pessoas lobos em pele de cordeiro”, “o segundo lugar é o primeiro perdedor”, enfim e por aí vai. Agora veja, como que alguém que aprendeu algo do tipo venha se comportar com sensibilidade em relação ao outro. Inclusive não é de se duvidar que tal pessoa possa ter passado por experiências na vida que confirmem tais regras, entretanto quem nunca? Todavia, não é por este motivo que todas as relações serão do mesmo modo. As pessoas não percebem que generalizam e muito.
Já outro sequer pode ter percebido o quão pouco ou superficiais foram seus relacionamentos no passado em virtude de excessos de controle que os familiares exerciam sobre ele, culminando em acentuados déficits em habilidades sociais.
Outro possível motivo, pode ser o controle coercitivo, familiares muito rígidos que expurgavam com veemência o quão excruciante era lidar com a vida. Viabilizando que a criança viesse a emitir muitos comportamentos com função de “fuga-e-esquiva” para não ser mais um peso para os familiares evitando construir relacionamentos devido elaborar autorregras distorcidas que “os outros são impertinentes e que por isso deve mantê-los afastados ou se afastar” .
Como se pode ver as possibilidades variam de caso para caso, e são inesgotáveis. Cada indivíduo possui uma história que selecionou comportamentos específicos nela, ainda que o próprio desconheça.
Se há menos crianças morrendo de fome na África, isso se deve a comportamentos de terceiro nível de seleção de pessoas que por lá desenvolvem trabalhos voluntários. Em resumo, pode se dizer que essas crianças estão sendo salvas, graças a esses comportamentos de “ser ajudadas por alguém”, e isso tange o que é ser sensíveis ao que é importante para os outros.
Sensibilidade é ficar sob controle daquilo que é significativo para o outro. Não é ser submisso ao outro. Discriminar o que é importante para o outro e não apenas pra si mesmo assegurará relacionamentos mais fortes e duradouros, pois sua presença para os outros passará a ter funções agradabilíssimas, amenas e libertárias. Experimente!
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Por Rolemberg Oliveira Martins
Psicólogo – CRP: 0429906
Especialista em Terapia por Contingências de Reforçamento
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