Culturalmente fomos levados a acreditar que certos adjetivos que representam resumos de comportamentos são “causas” de comportamentos.
A sociedade articula inúmeras frases do tipo: “não fiz isso porque não tenho força de vontade…”; “Não consigo, porque não tenho paciência…”; “Não conseguiu porque você é indisciplinado…; “Ele não conseguiu porque não tem autoestima…”; “Não consigo, porque não tenho foco…”; “Não aprende porque não tem motivação…”. Tais frases foram arbitrariamente convencionadas (criadas) pela cultura. E inevitavelmente boa parte da humanidade acreditou-se nelas, talvez você possa ter sido uma delas, assim como eu já acreditei.
Falam de uma forma como se tais características, senão adjetivos ou nomenclaturas genéricas fossem realmente sinônimo de “causalidade” para categorias de comportamentos que ali são categorizados, em cada uma dessas palavras.
O estranho é que consideram que pessoas que se comportam de maneira a revelar que elas estão com disciplina por exemplo, são pessoas que nasceram com isso. Ai está uma das grandes confusões que a humanidade prega, e que portanto dificilmente outras pessoas que não tenham uma dessas características de fábrica jamais conseguirão fazer o que muitas outras que possuem conseguem. Lêdo engano!
Por mais que outras áreas da ciência incluindo as ciências psicológicas também compartilharem dessas nomenclaturas, a Teoria Analítico Comportamental que é uma ciência de base natural, ou seja, trabalha com o observável e com princípios naturais que regem os comportamentos dos organismos, não considera que isso seja meramente fruto de herança genética, mas sim como sendo produto final da interrelação da pessoa com os ambientes que ela se desenvolveu.
Logo, admitir meramente que alguém possua autocontrole apenas por herança genética, impede a percepção de compreender que tratando-se de autocontrole por exemplo, existam estímulos que aumentam a probabilidade de certos comportamentos ocorrer. Existem comportamentos que, praticamente só ocorrem diante da presença de certos estímulos. Exemplo, tabagista podem sofrer muito mais, caso sejam internados por um problema pulmonar comparado aquelas pessoas que não fumam, isso pode se justificar porque durante a interação eles podem ser proibidos de fumarem. Veja que há então algumas variáveis que controlam a probabilidade do comportamento de fumar ocorrer que é as determinações do médico bem como as restrições de segurança e saúde.
Neste caso a pessoa não fuma porque existem variáveis que dificultam o comportamento de fumar ocorrer. Em outras circunstâncias a pessoa pode estar numa fazenda e ficar sem cigarros por algumas horas por alguns dias. Então, o que seria dessa probabilidade caso a própria pessoa fizesse algo que dificultasse a ocorrência do comportamento de fumar. Neste caso, pode se bem dizer que ele consegue controlar o próprio comportamento através de manejo de variáveis. Neste sentido sim ele está emitindo respostas de autocontrole. Ao passo que ele mesmo controla o que antes controlava o comportamento dele.
Enfim é importante dizer que o exemplo do “tabagista” não esclarece várias outras intervenções de um programa comportamental.
Portanto, o autocontrole assim como as demais adjetivações citadas não é acessado diretamente e não são “causas” de comportamento, mas sim consequência.
Isso também não exime que aqueles que assim conseguem emitir tais padrões de comportamentos não entrarão em contato com consequências aversivas de curto prazo até se beneficiar com as consequências de logo produto dos comportamentos de se autocontrolar.
Fazer uma dieta está muito mais ligado a um programa comportamental do que meramente ter mais disciplina. Muitas pessoas não tem a mínima ideia do que é ou como é se disciplinar.
Logicamente o histórico de desenvolvimento de uma pessoa pode sim influenciar que ela tenha mais ou menos sofrimento para se adequar a um programa comportamental, principalmente se no passado ela sempre conseguia que praticamente todas suas necessidades fossem supridas por ela mesma ou por alguém. O que favorece inclusive muitos dizerem que são compulsivos. A compulsividade também ao ser mais analisada funcionalmente é bastante comum nos depararmos com resultados de comportamentos.
Lamentavelmente não existe uma entidade interna ao organismo, localizada no interior do homem, que é acionado em algum momento para que nos beneficiemos de seus efeitos! Em específico, não há um endereço preciso ou ainda um “botão” a pressionar para ativar os benefícios da atitude, da disciplina, etc. Infelizmente ao contrário do que muitos pensam, não nascemos com tais características, mas desenvolvemos elas.
Já existem inúmeras pesquisas que ao contrário do que se pensava antes, ou seja, “de todo sucesso que grandes personagens dos esportes conquistam, NÃO vieram de seus talentos, mas sim de seus esforços e dedicação!”. Existem livros que abordam tais estudos, leitura interessantíssima.
E pra encerrar, volto no cerne da questão, toda vez que deixamos de fazer algo que nos exige concentração, foco, atitude, disciplina, força de vontade e que pensamos em abandonar, isto é, deixar de fazer, o que costumamos fazer ao invés de dedicarmos? Seria algo mais desafiador? Mais frustrante? Mais desconfortável? Mais entediante? Pra qualquer um você pode mentir, mas pra você mesmo é improvável…
Comece buscando ajuda e cumpra os primeiros passos em direção ao que você fala que quer. Já ouviu falar de desconforto construtivo? Por incrível que pareça cito em meu livro “Consequências: quando a vítima não é por acaso”, essa expressão utilizada por um outro autor em sua metodologia. Achei interessante a ideia. Mas claro não é desconforto de qualquer jeito. Procure um profissional para você descobrir como melhorar seus resultados.